Scotland, ye bonnie land IV

Ilha de Skye - quando os deuses descem até o Old Man of Storr 

A travessia para Skye fez-se na companhia de um sol muito brilhante e um céu azul imaculado. Na Escócia, é possível experienciar-se as quatro estações do ano no mesmo dia, sobretudo nos meses primaveris, como já nos tinha acontecido anteriormente - mas aquela luz prodigiosa enquanto atravessávamos a ponte foi como um prenúncio para os dias que se seguiram. Um bálsamo, uma paixão arrebatadora, um caminho que ambas tínhamos que percorrer, cada uma à sua maneira, mas sempre juntas. Porque só assim fazia sentido.   







A subida ao Old Man of Storr foi um dos momentos mais antecipados de toda a viagem. As montanhas possuem uma energia muito particular, um aglomerado de dias antigos, pedra sobre pedra, camada após camada. Subir a uma montanha, para além do óbvio desafio físico, tem qualquer coisa de transcendente, que excede todo os nossos limites, pondo tudo em perspectiva e elevando questões ordinárias a exercícios filosóficos. 











Aproximarmo-nos da rocha do velho eremita (old man of Storr), que parece contemplar aquele fiorde gigante que é o Sound of Raasay, é uma experiência única. Tivemos imensa sorte com o dia e a visibilidade esteve quase sempre a 100%, permitindo-nos desfrutar da paisagem e subir o trilho em segurança. Apenas na reta final fomos brindadas com um vendaval majestoso, que suscitou algumas situações caricatas e muitas gargalhadas. 

É inevitável subir àquelas montanhas sem pensar em todas as gerações de Highlanders que desbravaram aqueles trilhos e percorreram os mesmos caminhos que as nossas pernas cansadas percorriam. Imagens de homens de kilt e clãs inteiros a moverem-se por entre aquelas paisagens com maestria e uma ligeireza que nós nunca teremos, vinham-me à cabeça constantemente. Quase que lhes conseguia ouvir as vozes, aquela sonoridade cantada do gaélico escocês, o tilintar das espadas suspensas nos kilts, os brindes com um wee dram de whisky para aquecer o corpo e a alma. Slàinte mhath!!!








Poucas vezes um café me soube tão bem como o que bebemos sentadas junto à reentrância de uma rocha, para nos abrigarmos do vento. Estas nossas pequenas pausas são, aliás, uma das lembranças mais bonitas que guardo da viagem: o café de thermos, as bolachinhas, os pequenos snacks ou os piqueniques mais substanciais, aliados às conversas profundíssimas que aquelas Terras Altas guardarão para sempre nas entranhas. Descobertas, recomeços e uma sensação de renascimento que trazemos na memória, como uma bússola que nos guiará para sempre. 

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