Scotland, ye bonnie land III

Castelo de Eilean Donan e Skye no horizonte




As cores da paisagem que se desenrolava como um filme à nossa frente mudavam a cada curva da estrada, num jogo de luz e sombra entre as montanhas e o sol da tímida Primavera escocesa. Ali, cada raio de sol adquire um estatuto de nobreza, reverenciado e aplaudido, acarinhado e celebrado, com direito a músicas e poemas, piqueniques e orações. Assim fizemos, parando o carro sempre que possível para apreciar o bailar de luz e sombras por entre vales e montanhas, em êxtase pueril.






Como me acontece tantas vezes em frente ao mar - e como já me acontecera antes ao atravessar a Toscânia e num ou noutro lugar cuja energia mexe muito comigo, as lágrimas ali não pediram permissão para escorrer soltas pelo meu rosto abaixo. Uma descarga de emoções, um grito ancestral contido, uma necessidade incontrolável de chorar, enxergar longe, respirar fundo e completar um qualquer puzzle de memórias dentro de mim, como uma limpeza da alma e um renascimento. Se boa parte de mim ficou para sempre nas Terras Altas escocesas, outra boa parte foi reencontrada, devolvendo-me um mapa de emoções que me guiará para sempre. Trouxe muito mais do que alguma vez poderia lá ter deixado. 



Dizem que o Castelo de Eilean Donan é um dos mais fotografados do mundo. Tendo em conta a quantidade de fotografias que tirámos, dos mais variados ângulos, não me custa acreditar nessa afirmação, já para não falar em todo o cenário envolvente, que lhe confere uma aura muito particular. Situado numa pequena ilha de maré no cruzamento de três lagos, Eilean Donan é uma espécie de cartão postal de uma Escócia antiga e de História riquíssima, o que faz dele um local de romaria turística de eleição, também. Apesar disso, é possível ter aquela sensação - algo egoísta, mas ainda assim muito satisfatória, de termos o castelo “só para nós”.






As cores e a simplicidade da bandeira da Escócia, a cruz branca de Santo André contrastada no azul celeste e hasteada ao lado do castelo, solitária e imponente, marcariam o início de uma das viagens mais bonitas, comoventes e difíceis da minha vida - a travessia para Skye, o abraço demorado e sentido que a ilha nos deu, o mar como horizonte em todas as direções e o aperto insuportável que carregámos no peito durante aqueles dias. Skye foi o deserto perfeito para um luto antecipado. Sei que a Ji teria amado aquela terra tanto quanto nós. 





Sing me a song of a lad that is gone,

Say, could that lad be I?
Merry of soul he sailed on a day
Over the sea to Skye.

Mull was astern, Rum on the port,

Eigg on the starboard bow;
Glory of youth glowed in his soul:
Where is that glory now?

Sing me a song of a lad that is gone,

Say, could that lad be I?
Merry of soul he sailed on a day
Over the sea to Skye.

Give me again all that was there,

Give me the sun that shone!
Give me the eyes, give me the soul,
Give me the lad that’s gone!

Sing me a song of a lad that is gone,

Say, could that lad be I?
Merry of soul he sailed on a day
Over the sea to Skye.

Billow and breeze, islands and seas,

Mountains of rain and sun,
All that was good, all that was fair,
All that was me is gone.

- Robert Louis Stevenson (1892) -






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